ATÉ QUANDO AGRESSIVOS NAS PALAVRAS?
agosto 29, 2011 on 12:46 pm | In Pe. Robson | 13 ComentáriosNós últimos dias tenho pensado muito sobre a essência de nossas palavras e o que nos motiva a proferi-las. Muitas delas não passam pelo critério do amor, pois surgem junto com sentimentos momentâneos, como: a ira, o aborrecimento e o ódio contra o outro. Às vezes, as pessoas se deixam dominar por emoções repentinas, concedendo a elas o poder de decidir as suas atitudes. Quando se age por impulso é possível magoar aqueles que mais amamos e ferir as relações mais duradouras. Algo que, se houvesse paciência, não aconteceria. Ao agir a partir da raiva, o indivíduo assume o caminho de sua autodestruição.
Nossas palavras têm o poder de destruir e edificar a família, iluminar e entristecer os amigos, libertar e aprisionar os que convivem conosco; até mesmo os colegas de trabalho. Por meio das palavras, agradecemos e, ao mesmo tempo, denegrimos a vida do outro. É difícil entender tamanha contradição: bondade e maldade em uma única forma de ser, agir e, principalmente, falar.
“A boca fala daquilo que o está cheio o coração!” (Lc 6,45). Por detrás do que falamos está um amplo contexto de situações e pensamentos. Não sou poucos os que deixam a panela de pressão estourar e, por isso, falam mal, humilham e xingam o outro. Irados, acabam por proferir as palavras mais insensatas para o momento. Quando a raiva passa e a cabeça esfria, ficam o vazio e o arrependimento de ter dito o que não era necessário. E mesmo que fosse indispensável tocar no assunto, a sabedoria já nos convida a tratar do conflito em momentos viáveis e serenos. Para tudo na vida há uma ocasião específica e propícia.
Só o fato de pedir ‘desculpa’, não modifica a ferida daquele coração que sofreu agressões verbais. Faz bem pensar que o melhor pedido de ‘desculpa’ é não repetir o mesmo erro de sempre. Na verdade, ‘desculpa’ não pode ser confundida com justificativa para erros que se repetem. Pelo contrário, ela é o reconhecimento mais sincero de que queremos mudar e não cederemos às novas investidas do ódio. Não estando preparado para mudar o comportamento, então é melhor, nem acelerar o pedido de desculpa para que a palavra não caia em descrédito. O mais bonito, nesse itinerário, é quando se substitui a ‘desculpa’ pelo ‘perdão’.
As palavras, filhas do nervosismo, vão e voltam. Na hora em que menos se espera lá estão elas atormentando a consciência e o coração. É infantil quem deixa o ódio usar sua boca e tomar posse de suas atitudes. Quem fica enfurecido se transforma em tudo aquilo que não gostaria de ser. Se fosse possível gravar o momento, a pessoa ficaria envergonhada de vê-la agindo com tamanha brutalidade.
A ‘Palavra’ de Deus já nos orienta: “Aquele que não comete falta no falar, é homem perfeito, capaz de por freio ao corpo todo. A língua é um fogo, o mundo da maldade. A língua, colocada entre os nossos membros, contamina o corpo inteiro [...]. Quaisquer espécies de animais ou de aves, de répteis ou de seres marinhos são e foram domadas pela raça humana; mas nenhum homem consegue domar a língua.
Ela não tem freio e está cheia de veneno mortal. Com ela bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca sai bênção e maldição. Meus irmãos, isso não pode acontecer!” (Tg 3,1.6-10b). Voltando ao texto bíblico, verifica-se a presença do verbo ‘domar’. Para bom entendedor vale o lembrete: só se doma animal selvagem. Portanto, não podemos permitir que a língua nos torne violentos nem agressivos, como se fôssemos trogloditas.
Não convém que nos isentemos das consequências de nossas palavras. Se assim agirmos, nos tornaremos irresponsáveis com o outro e inconsequentes com o que falamos. Aquele que humilha pode se esquecer do ocorrido, mas há a possibilidade de que o insultado recorde-se das ofensas recebidas por toda uma vida; ainda mais quando não há a capacidade do perdão incondicional. No atendimento pastoral tenho visto muitas pessoas que acumulam mágoas durante vinte, trinta, quarenta anos. Alguns guardam ressentimentos até de entes falecidos, que lhes denegriram pela fofoca ou pela maledicência. É como se essas vítimas das más palavras ficassem presas a um passado distante e impedidas de cresceram na fé.
Com oração, diálogo e dedicação é possível humanizar as nossas palavras, para que mesmo dizendo a verdade, não sejamos capazes de ofender a ninguém. Santifiquemos nosso coração e apaziguemos nossos ânimos. Assim, tudo o que sair de nossa boca será para engradecer as pessoas, nunca para destruí-las. Pautados pela caridade, amemos! Alicerçados na fé, nos esforcemos! Norteados pela esperança, caminhemos com a consciência tranquila de que nossa única arma é a compreensão pelo limite do outro! Que nossas palavras sejam, sucessivamente, santificadas na Palavra do Pai. Que nunca venham a ser lançadas ao vento, nem atiradas com agressividade! Quando machucamos o outro, ferimos a face de Deus!
Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R.
Missionário Redentorista, Reitor da Basílica de Trindade e Mestre em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano.
Twitter: @padrerobson
Missionário Redentorista, Reitor da Basílica de Trindade e Mestre em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano.
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